Penso que o lugar onde guardamos nossos livros diz muito quanto a nossa admiração e o apreço pelo autor. É como a louça da vovó, muitas vezes exposta como um troféu na cristaleira. E assim, em minha estante, “Calibre 22”, primeiro livro de poemas publicado por Vitor Biasoli, está posicionado entre Cruz e Souza e Sylvia Plath. Pelotense de nascimento, porto-alegrense de vivências, santa-mariense por opção, ao conversarmos demoradamente com ele, é fácil perceber que o Planeta Biasoli gira numa órbita peculiar. Há uma curiosidade inefável no seu olhar, um brilho ávido que desvela não apenas sua mortalidade, mas a de todos nós. E assim como a lua influencia o movimento das marés, a Paisagem Marinha do poeta surge como memórias em translação, objetos bem identificados que zurzem de um lado para o outro, feito libélulas numa cena pastoral ou grilos que rasgam o silêncio sepulcral de um anoitecer. Passado-presente, cinzas-azulados, sexo-e-amor, reminiscências à deriva, camarões de outro planeta, luz-e-sombra e o opaco-iluminado da existência esperneia nas páginas de “Paisagem Marinha”. Segure firme, o que está entre suas mãos é um senhor livro de poesia, um material sólido que reluz como prata polida agora há pouco.
I think where we keep our books says a lot about our admiration and appreciation for the author. It's like grandma's crockery, often displayed as a trophy in the kitchen cabinet. And so, on my shelf, “Caliber 22”, the first book of poems published by Vitor Biasoli, is positioned between Cruz e Souza and Sylvia Plath. It is easy to see Planeta Biasoli rotating in a peculiar orbit. There's an ineffable curiosity in his eyes, an avid gleam that reveals not just his mortality, but that of us all. And just as the moon influences the movement of the tides, the poet's marine landscape emerges as memories in translation, well-identified objects that swish from one side to the other, like dragonflies in a pastoral scene or crickets that tear through the sepulchral silence of an evening. Past-present, gray-blue, sex-and-love, drifting reminiscences, shrimps from another planet, light-and-shadow and the dull-illuminated existence kicks in the pages of “Paisagem Marinha”. Hold tight, what's in your hands is a gentlemanly book of poetry, solid material that glistens like polished silver just now.